Coisas que gosto (ou não) de fazer, ler, ouvir... Pensamentos e idéias rabiscadas... sentimentos e emoções... (auto)críticas... Um pouco de tudo que penso ser...

quarta-feira, novembro 08, 2006

Direto e reto...


Aquele belo copo de cristal que um dia foi posto calculadamente a três centímetros do lado esquerdo dos talheres de platina e em frente às travessas de porcelana chinesa sobre aquela bela estante de madeira-de-lei hoje acumula a poeira do tempo e apenas serve como lembrança de algo que nunca existiu num tempo que nunca voltará a existir... Como se o objetivo decorativo dele tivesse sido deixado de lado e o brilho e imponência que antes era imposto hoje tenham se transformado apenas em desgosto e motivo de sobra para querer atirá-lo contra a parede num gesto desesperado de tentar apagar o que nem se quer foi escrito tão menos lido... Sem ponto nem parágrafo ou sequer uma vírgula faço analogia à vida que nada mais é do que uma estrada de mão única sem retorno e sem acostamento que tem apenas um destino certo e definido e nada pode ser feito para evitá-lo... O mesmo copo no qual desfrutei doses de prazer e alegria de sonhos e magias hoje serve para se encher de meu próprio veneno e matar a minha sede de vingança de mim mesmo e serve para me torturar e cortar minha pele com os cacos que se sobrepõe no chão como se as cicatrizes que ficarão e a dor física que posso suportar fossem suficientes para me fazer sentir melhor ou menos culpado pelo fato de tê-lo colocado ali... Ainda que eu quisesse ignorá-lo ou virar as costas fingindo não me importar saberia que ele permaneceria ali estático imóvel sem reação e saberia que teria sido eu quem o deixou dessa forma saberia também que mesmo que o limpasse com um álcool e um pano úmido meus erros seriam refletidos nele e que todo o seu brilho seria ofuscado por minhas derrotas e ambições inoportunas e pela minha falsa ingenuidade e pelo meu estúpido complexo de inferioridade e pela minha falta de caráter e dedicação mútua...

Pulo linha como se saltasse de um imenso penhasco vazio e oco e sem fim numa queda livre e sutil onde o vento que bate em meu rosto se parece com tapas de auto-flagelo confortante mas não confortável estável constante... Buscando nessa falsa liberdade uma falsa solução para todos os meus talvez falsos problemas como se um simples “Superbond” fosse capaz de colar todos os cacos e retirar todas as imperfeições e fazer com que tudo volte ao normal ou pelo menos um dia seja normal... E quem sabe um dia eu possa acordar de todo esse pesadelo e seguir de onde parei e ver que o copo de cristal ainda está lá intacto e saber que tudo valerá a pena custe o que custar e então poderei ter a certeza de que fui capaz de me perdoar e de ser perdoado...

Enquanto isso vou (sobre)vivendo! (ou pelo menos tentando)...